segunda-feira, 7 de março de 2011

VIVA LOBATO!

A excelente Revista de História da Biblioteca Nacional publica neste mês matéria que já está dando o que falar: com o título de "Monteiro Lobato sem fantasia", Ronaldo Pelli aborda a polêmica levantada a partir da charge feita por Ziraldo para o bloco "Que Merda é Essa?" do carnaval carioca (já existiu um bloco com esse nome em Olinda).
Em primeiro lugar, a grita é livre, mas a tentativa de censura ao bloco e, pior ainda, à obra monumental de Monteiro Lobato é, para ser elegante, equivocada. Isso nada tem a ver com a crítica desapaixonada e lúcida a que toda pessoa que torne pública sua opinião deve estar sujeita. É legítimo questionar posicionamentos do escritor, em seus livros ou em outros meios. Porém, a seguir o raciocínio dos que buscam colocar restrições ao "compadre Zé Bento", deveríamos fazer o mesmo com certas epístolas de Paulo, por apresentarem caráter machista. Poderíamos também encontrar noções "politicamente incorretas" (argh!) em inúmeros contos de fadas e nas histórias em quadrinhos da Disney. Nem mesmo nosso grande Maurício de Souza estaria livre do "index prohibitorum", por causa de personagens como a Pipa (gorda) e a Magali (comilona), além do (caipira) Chico Bento.
Monteiro Lobato nos legou uma obra literária de valor inestimável. Militou bravamente em defesa da exploração das riquezas minerais em território brasileiro - e pelos brasileiros. Se escreveu coisas que hoje nós podemos discordar, ora, qual o problema? Atire o primeiro carimbo quem nunca escreveu algo de que pudesse se arrepender!

terça-feira, 1 de março de 2011

A FÚRIA DE DIONÍSIO - PARTE II

Na mensagem anterior eu falei do samba "Plataforma", de Bosco e Aldir. Um ano depois do disco "Tiro de Misericórdia", dessa dupla, chagava às lojas o antológico "De Pé no Chão", da rainha Beth Carvalho. Por causa do estrondoso sucesso de "Vou Festejar", poucos se lembram da composição de Pintado & Neném "Visual", que começava assim: "Depois que o visual virou quesito/Na concepção desses sambeiros/O samba perdeu a sua pujança/Ao curvar-se à circunstância/Imposta pelo dinheiro...".

 Ora, por mais que sejam espetaculares as alegorias, carros alegóricos e até comissões de frente apresentadas nos desfiles das escolas de samba, ficou claro que esse espetáculo se transformou numa coisa sofisticada, embora de inspiração popular. É uma grande ópera a céu aberto.  E isso sai caro, o que levou as escolas a buscar patrocínios. Uma sombra, contudo, ainda não desapareceu. Os bandidos fantasiados de "patronos", "presidentes de honra", e outros títulos eufemísticos permanecem controlando o evento, e ainda não houve político capaz de peitá-los. Grande parte da mídia os paparica, da polícia os protege e do povão os admira. Parafraseando o ótimo narrador esportivo Milton Leite: "Que beleza!". Talvez fosse uma boa ideia uma UPP na Apoteose, que passasse o rodo nesses pilantras. Como diz outro samba, "Sonhar não custa nada..."

Espero ainda ver um Carnaval sem essas "contaminações". Enquanto isso não acontece, vou para a rua, onde verdadeiros foliões fazem a festa que o Povo - e Dionísio - gostam.

A FÚRIA DE DIONÍSIO - PARTE I

Dionísio deve estar pê da vida. Enquanto no Rio alegorias das escolas de samba arderam em chamas, em São Paulo viraram mingau. Trios elétricos, por sua vez, se transformaram em passaportes para o além. Serão sinais de que o Deus da Alegria está de saco cheio de ver o que andam fazendo com a sua maior festa? 

Vou falar primeiro dos trios elétricos. Há muito tempo a criação de Dodô e Osmar se transformou em indústria. Estabelecida em Salvador, logo saturou a capital baiana e desde então começou a se expandir, tendo como um dos seus alvos o Rio de Janeiro. Só esqueceram que, com todo o respeito, isso aqui no Rio é tão natural quanto flor de plástico. O carioca não quer saber de pagar para sair num bloco, quer se vestir (ou despir) como bem entender e acha uma tremenda folga alguém vender um espaço num lugar que é público. Já em 1977 João Bosco e Aldir Blanc lançavam o samba "Plataforma", que criticava a ideia de cercar e disciplinar os blocos de carnaval. O que na época poderia soar como mais um gesto de resistência aos controles da ditadura, hoje poderia ser entoado contra as tentativas, sempre fracassadas porém insistentes, de "baianizar" o carnaval carioca, plantando nas nossas ruas aqueles caminhões infernais, que nada têm a ver com a "forbica" do trio original.

Agora tivemos uma tragédia no Rio e outra bem maior numa cidade do sul de Minas. Uma coisa deve ficar bem clara: onde quer que funcionem, trios elétricos só podem ser autorizados em locais com bastante espaço e sem rede elétrica aérea. Só podem permitir que pessoas subam neles se houver segurança para tal. E aqui no Rio, só se for de graça.

No próximo texto eu concluo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CUTUCANDO DE LEVE - SANTOS: NA TUCANOLÂNDIA - Outra irresponsabilidade da Folh...

A Folha agora resolveu bater no Nicolelis, talvez o maior cientista brasileiro vivo e cotado para o Nobel. Ao contrário da opinião do blogue "Cutucando de Leve" (clique no título para ler), eu até achei razoável a retratação, mas a gente sabe que em muitos casos como esses o mal já está feito.
Vale lembrar que o nosso grande Carlos Chagas, embora discriminado por ser de Terceiro Mundo, também não levou o Nobel em parte pelo bombardeio de compatriotas invejosos e canalhas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CISNE NEGRO - ARREBATADOR!

"BRAVO!" Foi o que a timidez me impediu de dizer ao final da exibição - se fosse num teatro, eu o faria, afinal os artistas estariam lá para ouvir. Se Natalie Portman merece o Oscar? A dúvida que tenho é se ela não merecia ganhar logo 2! É um filme impressionante, que deixa você até cansado no fim, mas não por qualquer enfado, e sim pelo arrebatamento que causa no espectador. A gente sua e sente dor com a protagonista. Vê sua loucura quase por dentro. Em certas cenas a câmera sai da panorâmica e segue a atormentada Nina em suas evoluções, enquanto a música nos engole (escolha pelamordedeus uma sala com som de primeira) como uma onda gigantesca, sem que possamos esboçar qualquer reação. Atuações importantes de Barbara Hershey, que merecia ao menos uma indicação a melhor atriz coadjuvante, e de Vincent Cassel.
Não quero falar mais nada, até para não tirar a graça de quam ainda não assistiu, mas foi exatamente como saí do cinema - sem palavras.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O PROBLEMA ESTÁ NOS VALORES

O que existe de comum entre a morte de um inocente morador do Andaraí, alvejado por engano numa operação do BOPE, um novo massacre perpetrado por um jovem nos EUA, a recente aposentadoria do jogador Washington e as repetidas tragédias das chuvas em São Paulo e no Rio?

A questão da Vida Humana como valor maior.

Citei o caso do Andaraí porque o erro fatal foi cometido por um bom policial. Não se tratava de um despreparado, muito menos de um desses assassinos fardados. No momento crítico ele tomou a decisão que julgava correta, mas faltou-lhe pensar um pouco mais na vida que iria ceifar, ainda que com a intenção de proteger outras. Naturalmente não se trata de julgar este homem, até porque o comportamento do mesmo mostra que ele ficou arrasado com o que fez. Nós, cariocas, e várias outras pessoas ajudamos a puxar aquele gatilho pelas nossas ações ou omissões.

Nos EUA, mais precisamente no Arizona, um jovem compra uma arma numa loja, munição num supermercado, pega um táxi, chega num comício e sai atirando, matando e ferindo. Que sociedade é essa, que pretende ser a palmatória do mundo e permite isso? Permite não, incentiva, porque defende o direito de se armar até os dentes como se vivesse nos filmes de bangue-bangue. Viva a liberdade, inclusive a de matar o vizinho!

No Rio o jogador Washington, conhecido como Coração Valente por atuar há anos com três stents, além de ser diabético, anunciou a aposentadoria após alterações em seu estado clínico indicarem um agravamento do seu risco cardíaco. Garantir a vivência com a família foi mais importante do que mais um ano nos campos de futebol, mesmo que dele viessem mais títulos.

Quanto às tragédias das chuvas, sejam as antigas ou as recentes, continuamos vendo o mesmo quadro: resolver o problema das habitações em áreas de risco apresentaria, na visão dos sucessivos governantes, elevados custos financeiros e principalmente políticos. Pobres e ricos teriam que ser deslocados. As responsabilidades civis e penais de inúmeros agentes públicos e da sociedade em geral seriam postas em xeque. Projetos de muito maior visibilidade e repercussão poderiam ser cancelados ou profundamente alterados. Imaginem se as obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas fossem suspensas para que todo o esforço da nossa engenharia se voltasse para esta necessidade. Como exemplos, vejam o entorno do (belo) estádio Engenhão no Rio ou a situação do bairro paulistano de Itaquera, onde pretendem construir a arena do Corinthians.

Vidas se perdem? Seja aqui, no Iraque ou no Haiti, são apenas "danos colaterais"...