sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O PROBLEMA ESTÁ NOS VALORES

O que existe de comum entre a morte de um inocente morador do Andaraí, alvejado por engano numa operação do BOPE, um novo massacre perpetrado por um jovem nos EUA, a recente aposentadoria do jogador Washington e as repetidas tragédias das chuvas em São Paulo e no Rio?

A questão da Vida Humana como valor maior.

Citei o caso do Andaraí porque o erro fatal foi cometido por um bom policial. Não se tratava de um despreparado, muito menos de um desses assassinos fardados. No momento crítico ele tomou a decisão que julgava correta, mas faltou-lhe pensar um pouco mais na vida que iria ceifar, ainda que com a intenção de proteger outras. Naturalmente não se trata de julgar este homem, até porque o comportamento do mesmo mostra que ele ficou arrasado com o que fez. Nós, cariocas, e várias outras pessoas ajudamos a puxar aquele gatilho pelas nossas ações ou omissões.

Nos EUA, mais precisamente no Arizona, um jovem compra uma arma numa loja, munição num supermercado, pega um táxi, chega num comício e sai atirando, matando e ferindo. Que sociedade é essa, que pretende ser a palmatória do mundo e permite isso? Permite não, incentiva, porque defende o direito de se armar até os dentes como se vivesse nos filmes de bangue-bangue. Viva a liberdade, inclusive a de matar o vizinho!

No Rio o jogador Washington, conhecido como Coração Valente por atuar há anos com três stents, além de ser diabético, anunciou a aposentadoria após alterações em seu estado clínico indicarem um agravamento do seu risco cardíaco. Garantir a vivência com a família foi mais importante do que mais um ano nos campos de futebol, mesmo que dele viessem mais títulos.

Quanto às tragédias das chuvas, sejam as antigas ou as recentes, continuamos vendo o mesmo quadro: resolver o problema das habitações em áreas de risco apresentaria, na visão dos sucessivos governantes, elevados custos financeiros e principalmente políticos. Pobres e ricos teriam que ser deslocados. As responsabilidades civis e penais de inúmeros agentes públicos e da sociedade em geral seriam postas em xeque. Projetos de muito maior visibilidade e repercussão poderiam ser cancelados ou profundamente alterados. Imaginem se as obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas fossem suspensas para que todo o esforço da nossa engenharia se voltasse para esta necessidade. Como exemplos, vejam o entorno do (belo) estádio Engenhão no Rio ou a situação do bairro paulistano de Itaquera, onde pretendem construir a arena do Corinthians.

Vidas se perdem? Seja aqui, no Iraque ou no Haiti, são apenas "danos colaterais"...