sábado, 21 de janeiro de 2012

BRIZOLA, O BOM COMBATENTE




O texto abaixo foi escrito por mim um dia após a morte de Brizola e publicado no saite da revista Caros Amigos. Publico neste blog celebrando os 90 anos de seu nascimento que se completam neste dia 22/01.

O ano era 1982, eu tinha quase dezessete anos. Estava entrando na Biblioteca Nacional, centro do Rio, para fazer uma pesquisa sobre explosivos. Mas o som bombástico veio do outro lado da rua. Num palanque tosco, montado à frente da Câmara Municipal, discursavam militantes políticos de um partido nascente, diante de uns cem aguerridos e curiosos. Um nome se repetia em todas as falações: Leonel de Moura Brizola.

Não, naquele dia não fiquei, fiz minha pesquisa e fui embora. Mas eu vira a marola que antecedera uma onda. Poucas semanas depois, lá estava eu empolgado com o crescimento da candidatura ao Governo do Estado daquele líder que voltara há menos de três anos do exílio, e que no início me parecera apenas uma figura exótica. Não pude votar naquela época, não havia o voto aos 16. Mas panfletei, fui a debates, comícios, colei adesivo em tudo quanto era lugar, discuti nas ruas, nos bares, nos ônibus, não fiz pichação mas morri de inveja de quem fez. "Brizola na Cabeça e no Coração", era o lema. Calculo que consegui pessoalmente uns 50 votos. Para dar uma noção do envolvimento, meu pai era candidato a vereador em Angra dos Reis, mas pelo PMDB (nem poderia ser pelo PDT, o partido ainda não existia lá) e eu fiz muito mais a campanha de Brizola do que de meu pai que, graças a Deus, não brigou comigo, afinal eu morava em outra cidade e ele acabou gostando de não ter sido eleito. O último comício daquela campanha foi no mesmo lugar do primeiro, o que vi das escadarias da Biblioteca. Só que dessa vez havia mais de cem mil pessoas na Cinelândia. Ganhamos a eleição? Não, ele ganhou sozinho, nós só o seguimos. Não havia dinheiro, o partido não estava organizado na maioria dos municípios, havia três candidatos fortíssimos (Miro, Moreira e Sandra), todos com muito mais dinheiro e apoio da mídia. Mas deixaram o homem falar... Aí não teve pra ninguém, nem a fraude na apuração segurou a fera.

Foram várias campanhas, comícios maravilhosos, mais derrotas que vitórias, fui militante durante dez anos e, bem, eu também um dia me afastei politicamente do Engenheiro, cansado do seu método (ou de sua falta de) de fazer política. Não, não entrei no PT, estive perto, mas sempre achei meio estranha a postura daquele pessoal. Faltava neles a paixão, o tesão, o nacionalismo sem-vergonha, a identidade brasileira, a cara de povo que eu vira nos (efêmeros) tempos áureos do PDT. Hoje, essas diferenças estão mais fáceis de entender, até porque vários dos petistas históricos encontram-se tão perdidos quanto eu, que não consegui deixar de ser trabalhista, e o trabalhismo ainda é muito mais histórico que o petismo. Acontece que essa perplexidade perante o governo Lula não haveria com Brizola, simplesmente porque todos sempre soubemos como ele era, ele sempre pôs a cara a tapa, nunca se escondeu atrás de postos honoríficos ou simbólicos. Seu relativo desprezo pelos cargos legislativos se explica porque logo ele, um mestre da oratória, não se interessava em discursar, queria agir, e a caneta de executivo lhe fascinava muito mais do que o púlpito do parlamentar.

Falam muito dos muitos erros de Brizola, que ele tinha boas intenções, mas poderia ter feito assim, ter feito assado... Falta afirmar que o que criou obstáculos para Brizola e o afastou do poder não foram seus erros, mas suas prioridades. As Crianças e a Educação eram sua obsessão, era nesse caminho que ele via a salvação do País. E isso incomodou demais. Das elites à classe "mérdia", corriam murmúrios de assombro pela possibilidade daqueles "neguinhos" terem as mesmas oportunidades que eles. Ele foi o único político de relevo na nossa história a bater de frente com o sistema Globo, e o nascedouro desse confronto não foram as posições políticas conservadoras do seu proprietário, mas quando o Roberto Marinho disse a ele que esse negócio de escola integral não era para todo mundo. Aí o homem ficou bravo!

Dizem que ele era uma raposa política. Menos para si próprio. O homem enxergava muito longe, tão longe que não via os traíras que o cercavam, a não ser quando era tarde demais. Cansou de ir contra o senso comum, para só muito tempo depois os fatos confirmarem as suas teses. Nunca optou pelo que era mais conveniente, mas sim pelo rumo que sua consciência indicava. A frase "Brizola tinha razão" só não foi mais repetida por vaidade dos "sabidos" que pensam que são sábios. Se jogasse futebol, Brizola seria centroavante, daquele trombador, para quem não existe bola perdida. Que, de cara pro goleiro, chuta na arquibancada e depois faz um gol sensacional, e a galera adora e odeia ao mesmo tempo. Se fosse um super-herói, seria o Demolidor, um cego que vê mais que quem enxerga, que mora num bairro pobre e todo mundo conhece a identidade secreta, que prefere ser advogado dos desvalidos e não dos abonados.

Não fiquei tão triste com sua morte. Ela vem para todos, e o atingiu ainda lúcido, lutando, embora politicamente vencido. Tinha que ser do coração, que o norteou muito mais do que o cérebro, e já devia estar muito cansado. Como Paulo, combateu o bom combate, perseverou na luta, manteve a fé. Do outro plano (ele sempre estará do nosso lado), tenho certeza que continuará lutando pelas suas crianças, nós todos que vivemos nesse grande orfanato chamado Brasil. Não deixa herdeiros legítimos e de vulto, mas seu legado não será abandonado. Talvez a pessoa que mais encarne hoje esse "Homo Guerreirus" que foi Brizola seja a senadora Heloísa Helena, mas ainda é muito cedo para afirmar isso.

Falta ainda dizer que meu Rio de Janeiro vive numa violência tão grande, e os sacanas e ignorantes dizem que foi porque o Brizola "liberou geral" as drogas e o crescimento das favelas. O que ele fez foi dizer que os pobres tinham que ser tratados como cidadãos, que todos mereciam as mesmas oportunidades. Com todos os equívocos que possa ter havido, se o Programa Especial de Educação (o dos CIEPs, ou "Brizolões") tivesse sido mantido e aprimorado, e não destruído, viveríamos numa Cidade e num Estado muito mais felizes. Brizola foi sempre sabotado, pela esquerda arrogante e pela direita raivosa. E, infelizmente, o mesmo povo que ele sempre defendeu muitas vezes cai na conversa desses malandros, no mau sentido. Observem que não falei nada de Cadeia da Legalidade, das encampações dos grupos econômicos estrangeiros, enfim, das lutas dele no período pré-anistia. Não foi de propósito, mas ficou melhor assim, afinal de contas dessa época muitos falaram e vão falar, e eu preferi contar um pouco do Brizola que vi e vivi, não do que me contaram.

Muito Obrigado, Leonel Brizola! Um grande abraço para a Dona Neusa, o Darcy, o Jango, o Getúlio e tantos outros que certamente prepararam um belo churrasco para você!




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SOBRE AS COTAS


Sobre cotas já falei antes e muitos falaram e falarão. O motivo deste texto é a recente polêmica envolvendo a nota de corte para o ingresso no curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) através do Sistema de Seleção Unificada (SISU), que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

A nota de corte estabelecida supera a nota máxima possível no ENEM. Portanto, somente candidatos beneficiados por alguma ação afirmativa poderiam ingressar neste curso por este processo. Isso parece uma tremenda injustiça.

Será? Vejamos.

Neste ano o SISU preencherá somente 20% das vagas de Medicina da UFF. As demais serão pelo Vestibular, onde os alunos das escolas privadas e federais poderão buscar suas oportunidades. No próximo ano o SISU responderá por 100% das vagas, e neste caso a nota de corte não poderá ser a aplicada neste ano, sob pena de eliminar estudantes dos quais a Universidade necessita e que merecem o ingresso.

Dentre os detratores do ENEM e do SISU vemos bobagens como esta, onde o autor mistura o desempenho dos cotistas antes do ingresso na Universidade com o deles durante e após o curso. Ignorância, deslize ou maldade?

Mas também veremos histórias felizes, onde estudantes mais humildes e dignos de apoio foram beneficiados pelo mesmo sistema.

Quem realmente se dá mal?

O aluno da escola privada mediana. Quem (falo de escolas do Rio de Janeiro) estuda em instituições privadas como o São Bento e o Cruzeiro, em públicas como o CEFET e o IFRJ ou militares como o Naval e o CM, todos "excluídos" das ações afirmativas, tem nas próprias mãos as chances de conquistar uma boa colocação. Os melhores das públicas "comuns", com o "nitro" das cotas, se juntam aos anteriores. Quem, contudo, vem das milhares de escolas privadas de "segundo escalão", aqueles cujos pais ganham pouco mas, com grande sacrifício, conseguem pagar uns R$ 500,00 de mensalidade, sem contar o roubo dos caríssimos livros didáticos (quem me explicar como pode um livro de Matemática do 9º ano, descartável, custar mais que um de Cálculo - que pode ser usado por 20 anos ou mais - ganha uma mariola deste blogueiro) e as tais "taxas de material".


Esses estão solenemente, com o perdão da palavra, fudidos. Se a intenção é forçar o ingresso nas públicas, pode até funcionar. Mas minha mãe, em 1974, me tirou da pública para uma privada "mais ou menos" para que eu tivesse condições mínimas de estudo. O colégio onde estudei da 3ª à 8ª séries não era (não é, ainda funciona) nada demais. Mas tive ali um ambiente melhor, salas e banheiros limpos, alguma (não muita) disciplina - enquanto meus amigos que continuaram na "EP" só me relatavam bagunça, decadência... Sei que nem todas eram nem são assim, inclusive uma em que estudei, a Nicarágua, em Realengo (não fiquei nela porque mudamos de bairro), mas em regra o que se via eram salas depredadas, falta de professores, água, energia e até esperança.

O blogueiro não tem agora uma resposta para esta situação, mas pensa que esse povo precisa ser considerado nas seleções futuras, pois a rede pública simplesmente não tem capacidade para absorver um eventual êxodo do setor privado.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

LIVRAR O BRASIL DO PMDB

Na minha opinião a tese apresentada em Carta Capital tem como ponto mais fraco o conceito de um acordo de cúpula. Para defenestrar o PMDB do poder é preciso enfrentar sua maior força, que é a capilaridade: elegeu 1203 prefeitos em 2008, praticamente a soma de PT e PSDB.

É claro que parte dessa penetração tem vínculo com instâncias superiores, principalmente governos estaduais e senadores, dentre estes o pilantra-mor acadêmico bigodudo. Mas o câncer do clientelismo/coronelismo políticos se alimenta das pequenas safadezas diárias que têm como principais agentes o "baixo clero" que atua no âmbito municipal. Para matar de fome o tumor deve-se cortar os vasos sanguíneos que o sustentam. E isso passa fundamentalmente pela educação política da população. Afinal, como bons fisiológicos, os PMDBistas "desamparados" migrariam rapidamente para o novo "sócio" do poder, seja o PSD ou qualquer outra sigla.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

VOTEM NO PARTIDO DA ÉTICA!

Agora há pouco compartilhei no FB um vídeo onde a deputada carioca (e também uma famosa radialista) Cidinha Campos protesta indignada com a cara de pau de um notório corrupto de se candidatar a uma vaga no Tribunal de Contas do Estado.

Sabe de quem é a culpa de canalhas como esses estarem onde estão?

NOSSA!

Não é suficiente você votar. Deve votar bem. Não é suficiente votar bem. Você deve apoiar o bom político na sua luta. Não é suficiente apoiar. Você deve fiscalizar. A Democracia exige muito mais do que apenas um ato protocolar a cada dois anos. Neste ano já tivemos um plebiscito no PA e teremos eleições municipais em todo o país. Em hipótese alguma vote num FDP. Se não conhecer nenhum candidato confiável (eles e elas existem, acredite!) anule o voto. Ajude a denunciar os FDPs para que incautos não votem neles. E seja honesto(a) em todos os seus atos. A corrupção se alimenta de cada pequena safadeza diária.

Não estamos numa democracia ideal, mas o tempo da ditadura passou e hoje quem coloca ou tira essa corja dos plenários somos nós, cidadãos.

Há pilantras em praticamente todos os partidos. Portanto, selecione muito bem em quem vai votar. Certamente você encontrará, dentro de sua preferência ideológica, alguém que mereça seu voto.