sexta-feira, 11 de julho de 2014

RECONSTRUIR - II

A (verdadeira) catástrofe de BH.
"Acidentes como esse, infelizmente, acontecem." Não, essa frase não é do Felipão nem do Parreira. É do Prefeito Márcio Lacerda, na coletiva que deu após o desabamento de um viaduto em construção na mesma Belo Horizonte onde, cinco dias depois, a Seleção sucumbiria. Aviso que a frase foi propositadamente pinçada do seu contexto: na mesma entrevista o alcaide admitiu que certamente houve erros mas que as investigações é que os apontariam.
Pensava iniciar o segundo texto desta série sem usar o mesmo recurso do primeiro. Aí vem o Coordenador Técnico da Seleção, o outrora vitorioso Carlos Alberto Parreira, e diz o seguinte: "Não houve um deslize, um erro, no operacional nem na logística. Tudo foi perfeito. Só não funcionou o resultado do jogo contra a Alemanha”. Outra pérola: "Ontem foi uma coisa atípica. Um tsunami. Não tem explicação. É explicar o inexplicável."
Não é bem assim.
O ser humano tem limitações e nem sempre as catástrofes são evitáveis. É simples analisar os eventos depois dos mesmos consumados, mas os raciocínios a posteriori dificilmente seriam possíveis a priori. Mas existem as lições aprendidas, a experiência, o planejamento, a avaliação de riscos, a humildade e muitos outros recursos a nos alertar sobre os perigos e ajudar a prevenir falhas, seja numa construção, num torneio esportivo ou em qualquer outra atividade. Quando as mesmas acontecem, o acaso raramente tem relevância.
No caso da Copa, é óbvio que a Seleção não vinha jogando bem. Embora México, Chile e Colômbia não fossem equipes fracas ou medíocres, nem contra Camarões nós convencemos. Os diversos erros táticos eram apontados por parte da crônica esportiva, às vezes acusada de pessimista demais. Para piorar, revelou-se que os observadores Alexandre Gallo e Roque Júnior tiveram as recomendações de seu relatório sobre a Alemanha completamente ignoradas. Situação que os Inspetores de Equipamentos e outros técnicos ligados à área de Segurança Industrial conhecem bem e que pode ter acontecido nessa obra do viaduto. Alguém avisa, ninguém escuta, e aí...
Portanto, os senhores Parreira, Felipão e agregados, além de assumir a responsabilidade pelo fracasso, o que de fato fizeram, teriam que de antemão dizer algo como: "Não fizemos um bom trabalho. Passamos por um triz pelas oitavas. Não jogamos bem e, quando enfrentamos um adversário superior, fomos massacrados." Tratar a "pane" de seis minutos isolada do contexto é uma covardia com os jogadores e, acima de tudo, um completo equívoco. Quando o avião da TAM patinou na pista de Congonhas, matando 199 pessoas, a tentativa imediata foi atribuir tudo a um erro do piloto. Porém, depois ficamos sabendo do problema do reverso travado, da falta de ranhuras na pista, das condições meteorológicas que indicavam a necessidade de fechamento da mesma, etc. A Comissão Técnica da Seleção quis fazer o mesmo que tentaram algumas autoridades e a companhia aérea. Culpar o piloto.
A série continua, para desespero dos meus 26 seguidores.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

RECONSTRUIR - I

Um desastre que foi um "ponto de mutação" na indústria química.
A imagem acima retrata como ficou uma unidade de indústria química em 1974, no Reino Unido. Informações sobre esse terrível acidente podem ser encontradas aqui, no excelente blog do Cesar Cunha.
E por que cito esse evento um dia depois do "desastre" do Mineirão? Exatamente por isso, ora bolas! A tragédia de Flixborough produziu inúmeras lições aprendidas por toda a indústria química mundial a respeito de mudanças e intervenções mal conduzidas. Foi um verdadeiro "ponto de mutação" de uma tradição baseada no improviso e no saber individualizado para outra de projetos bem documentados e registrados.

Os dois melhores desse time.
Sobre esse acachapante 7x1, um resultado que superou as piores expectativas - o ótimo Roberto Sander cravara "apenas" 4x0 - podemos dizer que começou a ser configurado naquela nossa memorável vitória sobre a então "poderosa" (hoje a sabemos decadente) Espanha, os 3x0 da final da Copa das Confederações. Neymar fez um, Fred dois, David Luiz salvou um gol, Júlio César outro, eles perderam um pênalti... Agora ficou claro que o Felipão foi beneficiado - e depois iludido, como muitos de nós - pelo efeito motivador que um novo treinador usualmente provoca. Mano Menezes, com aquele seu carisma de chuchu de hospital, parecia perceber melhor as limitações da geração de que dispunha. O grande erro que o antecessor de Felipão cometera, provavelmente por pressão da CBF, foi indicado neste blog, como pode ser lido aqui. Sem eliminatórias, o foco deveria ter sido a Olimpíada de Londres (2012) e, a partir dali, com a base formada, partir para 2014.
Como a história só se repete como farsa, acreditou-se na possibilidade de refazer a magia de 2001-2002 doze anos depois. Mas se, naquela época, Felipão despontava coroado de títulos, num período mais recente seu retrospecto era no mínimo preocupante. Levou o Palmeiras ao título da Copa do Brasil de 2012 E ao rebaixamento no Brasileirão do mesmo ano, ainda que tenha sido substituído antes do final deste. Parreira, nos seus últimos trabalhos como treinador, acumulou fracassos.
Mas não podemos massacrar esses caras. Fizeram um trabalho ruim, é verdade, pois não foi só o "apagão" de seis minutos. Esta Seleção não jogou bem nenhuma partida completa. Suas principais jogadas eram os lançamentos de David Luiz, as arrancadas de Neymar e os escanteios. Não tínhamos armação de jogadas pelo meio nem jogadas de linha de fundo. Outros fariam melhor? No Brasil o cenário é sombrio. Nossos treinadores, em geral, são caras defasados e arrogantes. A Argentina tem meia dúzia de técnicos que "jantam" quaisquer dos nossos "professores".
Que a Reconstrução comece já no próximo sábado, quando o Brasil encerra sua participação nesta Copa. No próximo texto escreverei sobre o que acho que deve ser feito depois desse jogo.

sábado, 7 de junho de 2014

DEIXEM O POVO CANTAR!

Uma das coisas mais idiotas que ultimamente se tenta macaquear(*) dos EUA é a ideia de colocar cantores, profissionais ou não, para cantar o hino nacional. Péssima ideia. O hino é bonito e emocionante cantado pelo povo, e somente assim. Presenciei uma situação constrangedora num jogo Brasil x Bolívia, onde a cantora escalada "interpretou" o hino horrivelmente, atrapalhando o povo nas arquibancadas que tentava em vão fugir da "interpretação" da infeliz. Não vaiamos por respeito ao hino, mas que deu vontade, deu. Nesta Copa, PELAMORDEDEUS, não coloquem cantores para tomar o lugar do povo. DEIXEM O POVO CANTAR!
http://youtu.be/xQ7WMPTauNk

(*) Macaquear = imitar de maneira ridícula e subserviente.

sábado, 5 de abril de 2014

José Wilker, Presente!

Sempre brilhante.

Em um Brasil repleto de subcelebridades artificiais, tão vazias quanto notórias e descartáveis, José Wilker foi discreto até na maneira como nos deixou. Inteligente, lúcido, dono de uma voz impostada como poucas, era desses atores capazes de interpretar qualquer personagem, sempre de maneira absolutamente marcante. Subutilizado nos primeiros anos de TV, seguiu trabalhando e nos brindou com magníficas atuações no cinema. Conquistou então o espaço que merecia também na telinha. A entrevista que deu à excelente Bianca Ramoneda em 2012 mostra um cara consciente e perplexo diante de um Brasil que ele ainda tentava compreender. Vale cada segundo, como vale assistir cada segundo de suas interpretações.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

QUESTÃO DE TEMPO ("About Time")

Com relação a um tema que abordei no meu recente texto "Finitude", segue uma indicação de um filme que me emocionou bastante (quem ler a outra crônica e assistir o filme vai entender por quê). Sem contar que tem no elenco a adorável Rachel McAdams. Não posso dizer mais nada, só recomendar que assistam, ainda está em cartaz no Rio.

Adoro essa atriz.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

DIRIGIR NA FREGUESIA É PADECER NO... INFERNO MESMO

O antropólogo Roberto da Matta disse certa vez, textualmente: "No Brasil, obedecer à lei é visto como uma babaquice, um sintoma de inferioridade." Entrevista dele na TRIP sobre esse assunto aqui. Ele se referia principalmente ao nosso comportamento no trânsito. Na Freguesia, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, essa máxima é exemplificada ao extremo. O mapa abaixo indica pontos onde o desrespeito às mínimas regras de convivência no trânsito, neste pequeno bairro, é superlativo. Naturalmente, tudo agravado pela irresponsável e criminosa expansão imobiliária da região, recompensa que nossos vereadores e prefeitos sempre pagam em dia a seus principais financiadores.

Como é que se vivia sem o Google mesmo?


1. Largo da Freguesia - O principal problema é o fechamento do entroncamento em torno da Praça Professora Camisão, geralmente causado por veículos que seguem pela Av. Geremário Dantas e são, digamos, apanhados no meio da travessia quando o sinal da Estrada dos Três Rios abre.

2. Av. Geremário Dantas c/ Rua Mamoré - Quem vem pela Geremário Dantas no sentido Largo da Freguesia não pode virar à esquerda para entrar nessa rua, tendo que fazer o retorno na Estrada do Gabinal. Simples e elementar regra de ordenamento do tráfego. Pois bem, os imbecis dos motoristas "ixpertos" não só param naquela altura para virar à esquerda (provocando retenção naquela pista e perigo de acidente na outra) como são "ajudados" pelos mais imbecis ainda condutores que vêm no sentido Pechincha e param "gentilmente" para deixar a bandalha acontecer. É praticamente uma formação de quadrilha!

3. Rua Xingú c/ Estrada dos Três Rios - A Xingú deve ter esse nome de cerveja porque só podia estar de porre quem achou que essa rua podia permanecer com mão dupla. Para piorar, o sinal não abre, pisca. Se você estiver nessa ruela indo para a 3 Rios e houver mais de quatro carros à sua frente não conseguirá passar de jeito nenhum. Acha pouco? Só que quase sempre existe um engraçadinho que quer estacionar logo quando o sinal abre - para ir à farmácia ou à confeitaria Kúffura - e aí não passa ninguém. Ah, e é comum que os motoristas que vêm pela 3 Rios, muito gentis, fechem o cruzamento. Notem a diferença de atitude: os mesmos FDP que fecham esse cruzamento vão fazer, logo adiante, a "gentileza" mencionada no item 2.

4. Praça McGregor - Quase ninguém no bairro sabe o nome dessa praça, mas é só dizer "pracinha redonda" que todo mundo entende. Ali, a qualquer hora do dia ou da noite, carros que entram na rotatória vindos das ruas Araguaia, Geminiano de Góis e Joaquim Pinheiro passam direto, sem respeitar a preferência de quem está fazendo o giro. E se você respeitar a sinalização (sim, ela existe!) e parar dando a preferência vai ouvir um buzinaço, se não lhe acontecer coisa pior. Um guarda municipal que ficasse sentado nesta praça gastaria quilos de blocos de multas até baixar hospital vítima de LER.

5. Estrada do Bananal c/ Estrada dos Três Rios - Deixei esta pro final porque é, de longe, a esquina que mais enlouquece o coitado do motorista que tenta respeitar as leis. Quem vem da Bananal pelo lado da Ituverava encontra, logo após a esquina com a Rua Tirol, três faixas de rolamento. A da esquerda é para quem deseja virar à esquerda (claro, dããã!) ou seguir em frente, cruzando a 3 Rios e permanecendo na Bananal. As outras duas são para quem quer virar à direita, na direção da Estrada Grajaú-Jacarepaguá. Mas não existe uma só vez em que não venha um FDP pela pista do meio e se meta para a esquerda ou siga em frente. Isso já causou acidentes, e nada mudou. O trouxa que vem corretamente pela esquerda e quer seguir na Bananal corre sempre o risco de levar uma fechada ou pior, uma porrada na lateral direita do seu carro. Sim, HÁ sinalização - horizontal, vertical e luminosa. Mas o que é isso para o motorista brasileiro?

É claro que a loucura do trânsito carioca não é exclusiva deste bairro, muito menos desta cidade. Mas cabe a nós, moradores e frequentadores da região, denunciar estes absurdos e cobrar mudanças. Há muitos outros problemas que não citei, talvez devendo destacar o furdunço que acontece nas portas das escolas, com os pais dando aquela lição de educação no trânsito para seus filhinhos queridos. Nunca tente passar pela Geminiano de Góis em frente ao Santa Mônica ou pela Mamoré-Xingú em horário de entrada/saída de alunos, a não ser que esteja a fim de surtar.


Tão doidos pra criar um desses.
P.S.: para os mais jovens, a foto acima é do filme Um Dia de Fúria, de Joel Schumacher.