segunda-feira, 7 de novembro de 2011

OPINIÃO DO BLOG: QUEM MATOU O CINEGRAFISTA?


Não tenho a menor dúvida em apontar como responsável direto pela morte trágica do repórter cinematográfico Gelson Domingos o seu empregador, a TV Bandeirantes. Trata-se situação semelhante à que ocorreu com Tim Lopes, nesse caso com o agravante de que a presença de jornalistas em zonas de tiroteio durante os mesmos vem sendo uma rotina nas coberturas de todas as emissoras. Ou seja: demorou para acontecer.

Gelson Domingos da Silva

A defesa dos órgãos da mídia vem sendo a mesma: "um atentado à liberdade de imprensa". Uma ova! Quer dizer que faz parte da "liberdade de imprensa" expor trabalhadores a um tiroteio? Eu trabalho numa plataforma de produção de petróleo, uma atividade de risco. Para todas as nossas tarefas temos procedimentos escritos, e tudo que foge à rotina é objeto de uma análise preliminar de perigos. São tomadas medidas para reduzir os riscos a um nível aceitável - risco zero não existe - sendo garantido ao trabalhador o direito de recusa caso não considere as medidas de controle suficientes. Uma condição sine qua non para a realização do trabalho é de que os equipamentos de proteção sejam compatíveis com os perigos envolvidos.

O fato de que o colete usado fosse  o "mais resistente permitido para uso civil", e que este resiste apenas a tiros de armas leves, aponta claramente que os jornalistas não poderiam estar ali! Ou é alguma surpresa de que traficantes entocados numa favela estejam armados com fuzis?

Em 1973 assisti na TV à notícia de que um cinegrafista filmara sua própria morte. Era o argentino Leonardo Henrichsen, assassinado por um militar chileno durante os conflitos que se seguiram ao golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. De lá para cá a maioria dessas mortes se deu em zonas de guerra, ma as TVs brasileiras transformaram os tiroteios urbanos em "campeões de audiência", colocando jornalistas nas zonas de confronto, até atrapalhando a ação policial. Riscos completamente desnecessários.  Não precisamos de tantos detalhes. Podem colocar câmeras nas viaturas policiais, filmar a distância, utilizar blindados, sei lá. Não podem é colocar jornalistas na linha de tiro rezando para que não sejam atingidos.

Eu ia colocar aqui no blog o vídeo que mostra o confronto e o momento em que Gelson foi atingido. Desisti. Não devemos ficar consumindo essas imagens.

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