sábado, 7 de junho de 2014

DEIXEM O POVO CANTAR!

Uma das coisas mais idiotas que ultimamente se tenta macaquear(*) dos EUA é a ideia de colocar cantores, profissionais ou não, para cantar o hino nacional. Péssima ideia. O hino é bonito e emocionante cantado pelo povo, e somente assim. Presenciei uma situação constrangedora num jogo Brasil x Bolívia, onde a cantora escalada "interpretou" o hino horrivelmente, atrapalhando o povo nas arquibancadas que tentava em vão fugir da "interpretação" da infeliz. Não vaiamos por respeito ao hino, mas que deu vontade, deu. Nesta Copa, PELAMORDEDEUS, não coloquem cantores para tomar o lugar do povo. DEIXEM O POVO CANTAR!
http://youtu.be/xQ7WMPTauNk

(*) Macaquear = imitar de maneira ridícula e subserviente.

sábado, 5 de abril de 2014

José Wilker, Presente!

Sempre brilhante.

Em um Brasil repleto de subcelebridades artificiais, tão vazias quanto notórias e descartáveis, José Wilker foi discreto até na maneira como nos deixou. Inteligente, lúcido, dono de uma voz impostada como poucas, era desses atores capazes de interpretar qualquer personagem, sempre de maneira absolutamente marcante. Subutilizado nos primeiros anos de TV, seguiu trabalhando e nos brindou com magníficas atuações no cinema. Conquistou então o espaço que merecia também na telinha. A entrevista que deu à excelente Bianca Ramoneda em 2012 mostra um cara consciente e perplexo diante de um Brasil que ele ainda tentava compreender. Vale cada segundo, como vale assistir cada segundo de suas interpretações.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

QUESTÃO DE TEMPO ("About Time")

Com relação a um tema que abordei no meu recente texto "Finitude", segue uma indicação de um filme que me emocionou bastante (quem ler a outra crônica e assistir o filme vai entender por quê). Sem contar que tem no elenco a adorável Rachel McAdams. Não posso dizer mais nada, só recomendar que assistam, ainda está em cartaz no Rio.

Adoro essa atriz.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

DIRIGIR NA FREGUESIA É PADECER NO... INFERNO MESMO

O antropólogo Roberto da Matta disse certa vez, textualmente: "No Brasil, obedecer à lei é visto como uma babaquice, um sintoma de inferioridade." Entrevista dele na TRIP sobre esse assunto aqui. Ele se referia principalmente ao nosso comportamento no trânsito. Na Freguesia, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, essa máxima é exemplificada ao extremo. O mapa abaixo indica pontos onde o desrespeito às mínimas regras de convivência no trânsito, neste pequeno bairro, é superlativo. Naturalmente, tudo agravado pela irresponsável e criminosa expansão imobiliária da região, recompensa que nossos vereadores e prefeitos sempre pagam em dia a seus principais financiadores.

Como é que se vivia sem o Google mesmo?


1. Largo da Freguesia - O principal problema é o fechamento do entroncamento em torno da Praça Professora Camisão, geralmente causado por veículos que seguem pela Av. Geremário Dantas e são, digamos, apanhados no meio da travessia quando o sinal da Estrada dos Três Rios abre.

2. Av. Geremário Dantas c/ Rua Mamoré - Quem vem pela Geremário Dantas no sentido Largo da Freguesia não pode virar à esquerda para entrar nessa rua, tendo que fazer o retorno na Estrada do Gabinal. Simples e elementar regra de ordenamento do tráfego. Pois bem, os imbecis dos motoristas "ixpertos" não só param naquela altura para virar à esquerda (provocando retenção naquela pista e perigo de acidente na outra) como são "ajudados" pelos mais imbecis ainda condutores que vêm no sentido Pechincha e param "gentilmente" para deixar a bandalha acontecer. É praticamente uma formação de quadrilha!

3. Rua Xingú c/ Estrada dos Três Rios - A Xingú deve ter esse nome de cerveja porque só podia estar de porre quem achou que essa rua podia permanecer com mão dupla. Para piorar, o sinal não abre, pisca. Se você estiver nessa ruela indo para a 3 Rios e houver mais de quatro carros à sua frente não conseguirá passar de jeito nenhum. Acha pouco? Só que quase sempre existe um engraçadinho que quer estacionar logo quando o sinal abre - para ir à farmácia ou à confeitaria Kúffura - e aí não passa ninguém. Ah, e é comum que os motoristas que vêm pela 3 Rios, muito gentis, fechem o cruzamento. Notem a diferença de atitude: os mesmos FDP que fecham esse cruzamento vão fazer, logo adiante, a "gentileza" mencionada no item 2.

4. Praça McGregor - Quase ninguém no bairro sabe o nome dessa praça, mas é só dizer "pracinha redonda" que todo mundo entende. Ali, a qualquer hora do dia ou da noite, carros que entram na rotatória vindos das ruas Araguaia, Geminiano de Góis e Joaquim Pinheiro passam direto, sem respeitar a preferência de quem está fazendo o giro. E se você respeitar a sinalização (sim, ela existe!) e parar dando a preferência vai ouvir um buzinaço, se não lhe acontecer coisa pior. Um guarda municipal que ficasse sentado nesta praça gastaria quilos de blocos de multas até baixar hospital vítima de LER.

5. Estrada do Bananal c/ Estrada dos Três Rios - Deixei esta pro final porque é, de longe, a esquina que mais enlouquece o coitado do motorista que tenta respeitar as leis. Quem vem da Bananal pelo lado da Ituverava encontra, logo após a esquina com a Rua Tirol, três faixas de rolamento. A da esquerda é para quem deseja virar à esquerda (claro, dããã!) ou seguir em frente, cruzando a 3 Rios e permanecendo na Bananal. As outras duas são para quem quer virar à direita, na direção da Estrada Grajaú-Jacarepaguá. Mas não existe uma só vez em que não venha um FDP pela pista do meio e se meta para a esquerda ou siga em frente. Isso já causou acidentes, e nada mudou. O trouxa que vem corretamente pela esquerda e quer seguir na Bananal corre sempre o risco de levar uma fechada ou pior, uma porrada na lateral direita do seu carro. Sim, HÁ sinalização - horizontal, vertical e luminosa. Mas o que é isso para o motorista brasileiro?

É claro que a loucura do trânsito carioca não é exclusiva deste bairro, muito menos desta cidade. Mas cabe a nós, moradores e frequentadores da região, denunciar estes absurdos e cobrar mudanças. Há muitos outros problemas que não citei, talvez devendo destacar o furdunço que acontece nas portas das escolas, com os pais dando aquela lição de educação no trânsito para seus filhinhos queridos. Nunca tente passar pela Geminiano de Góis em frente ao Santa Mônica ou pela Mamoré-Xingú em horário de entrada/saída de alunos, a não ser que esteja a fim de surtar.


Tão doidos pra criar um desses.
P.S.: para os mais jovens, a foto acima é do filme Um Dia de Fúria, de Joel Schumacher.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

FINITUDE

Ainda perplexo com a perda brusca e muito recente de um querido companheiro de trabalho, achei importante dividir um pouco desse sentimento com vocês. Mesmo antes da tragédia que vitimou meu camarada eu já vinha me questionando acerca do que realmente vale a pena na vida. Sim, já ouço a citação óbvia de Fernando Pessoa mas... O que isso significa?

Mar Portuguez

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. 

Venho refletindo sobre cigarras e formigas, sonhos e projetos, estudos e viagens, enfim, sobre escolhas.

Na belíssima Evie, Johnny Mathis canta: "Sometimes a single moment changes all the ones that follow". Pensamos muitas vezes que temos controle das coisas, que tomamos decisões racionais e sensatas, mas basta um segundo e tudo pode perder completamente o sentido.

Próximo dos 50 (nasci em 1965) me lembro que, na minha infância, esta era uma idade de velhos. Hoje, com a mesma idade, somos bem mais jovens. Muitos de nós, provavelmente, viverão ainda quase o mesmo tempo que já viveram! Maravilha! Porém, como tudo que é maravilhoso, isso é também assustador. O cinquentão "velho" dos anos 60-70 sabia que lhe restava pouco tempo. Nós ainda temos, em média, tanta vida pela frente quanto um bebê brasileiro no início do século passado. Podemos morrer agora, como qualquer ser vivo, mas alguns de nós ainda verão o Halley de novo.

Então não posso pensar apenas no agora, certo? Devo me preocupar (pré-ocupar?) com um futuro que, ainda que abstrato, pode se tornar real. Continuar a correr, quiçá por quanto tempo, o impressionante risco de viver. De sentir dores e também prazeres. De ter sucessos e frustrações. De não ter o mínimo controle sobre o instante seguinte.

Bem, de minha parte pretendo me cuidar para que essa "pré-ocupação" não se torne mais importante que o presente. Aliás, além de ser o único tempo "real", presente também significa dádiva. Isso tem que significar alguma coisa (por favor, não me venham com etimologias). Vou meditar sobre um conceito budista, recentemente incorporado à Psicologia, conhecido por mindfulness, algo como "consciência plena".

Viver plenamente o agora, amando como se não houvesse amanhã. Por que na verdade não há.


Texto dedicado ao amigo Adelmo Louzada.






quarta-feira, 14 de agosto de 2013

OPINIÃO DO BLOG - OS CIEPs e as UPPs

Quando Leonel Brizola e Darcy Ribeiro implantaram o Programa Especial de Educação, cujo maior símbolo eram os Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, logo apelidados de "Brizolões", houve reações de todo tipo. Desde os que defendiam incondicionalmente o projeto àqueles que o execravam. Uns viam nele a redenção das populações mais humildes, enquanto outros o consideravam apenas uma peça de propaganda para levar o então governador à Presidência da República. Isso foi há 30 anos e o blogueiro acompanhou bem todo o processo. Como sempre, as opiniões extremas eram, no mínimo, equivocadas. Os CIEPs não eram perfeitos: nem todos funcionavam tão bem; o projeto de Oscar Niemayer era prático na construção, dava acessibilidade quando isso ainda era raro, mas não tinha conforto térmico e uma sala barulhenta era ouvida no andar inteiro; a capacitação dos professores não correu como deveria, etc. Era, porém, uma mentira deslavada a afirmação de que só eram instalados em locais bem visíveis, pois conheci vários em áreas bem "escondidas". O conceito era maravilhoso: tempo integral, estudo assistido, assistência médico-odontológica, biblioteca, participação da comunidade, etc. O programa foi, porém, boicotado por todos os lados - professores que não queriam trabalhar, elites que não admitiam escolas de qualidade para os "neguinhos" e, é claro, os adversários políticos. Os petistas chegavam a dizer que "escola não é creche"! Que cidade, estado ou país teríamos se o PEE tivesse sido mantido, aperfeiçoado, desenvolvido, como uma política de Estado? Nunca saberemos, porque foi sim sabotado, destruído, desfigurado, mas tenho certeza que seria melhor do que isso que está aí.
E as UPPs? Ora, vemos todos os dias que a realidade das comunidades "pacificadas" (uma falácia, pois nem no asfalto a cidade é "pacífica") ainda é muito dura. A brutalidade prossegue, como nessa chacina recente na Maré. Os serviços públicos ainda são extremamente precários, quando existem. Falar em "infraestrutura" é uma piada de mau gosto. E, para completar o quadro, temos um governo estadual absoluta e merecidamente desmoralizado. Então é pra acabar com as UPPs? Claro que não, a reocupação dos territórios ocupados pelo tráfico tem que ser, como a Educação, uma política de Estado, independentemente de quem esteja no Palácio Guanabara. Há muito a ser corrigido, sim, mas andar para trás não é correção, é capitulação. Acabemos com a "Cidade Partida". Sejamos indignados com toda injustiça, sem olhar a classe social da vítima. Estamos todos no mesmo Rio.