sexta-feira, 25 de outubro de 2013

FINITUDE

Ainda perplexo com a perda brusca e muito recente de um querido companheiro de trabalho, achei importante dividir um pouco desse sentimento com vocês. Mesmo antes da tragédia que vitimou meu camarada eu já vinha me questionando acerca do que realmente vale a pena na vida. Sim, já ouço a citação óbvia de Fernando Pessoa mas... O que isso significa?

Mar Portuguez

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. 

Venho refletindo sobre cigarras e formigas, sonhos e projetos, estudos e viagens, enfim, sobre escolhas.

Na belíssima Evie, Johnny Mathis canta: "Sometimes a single moment changes all the ones that follow". Pensamos muitas vezes que temos controle das coisas, que tomamos decisões racionais e sensatas, mas basta um segundo e tudo pode perder completamente o sentido.

Próximo dos 50 (nasci em 1965) me lembro que, na minha infância, esta era uma idade de velhos. Hoje, com a mesma idade, somos bem mais jovens. Muitos de nós, provavelmente, viverão ainda quase o mesmo tempo que já viveram! Maravilha! Porém, como tudo que é maravilhoso, isso é também assustador. O cinquentão "velho" dos anos 60-70 sabia que lhe restava pouco tempo. Nós ainda temos, em média, tanta vida pela frente quanto um bebê brasileiro no início do século passado. Podemos morrer agora, como qualquer ser vivo, mas alguns de nós ainda verão o Halley de novo.

Então não posso pensar apenas no agora, certo? Devo me preocupar (pré-ocupar?) com um futuro que, ainda que abstrato, pode se tornar real. Continuar a correr, quiçá por quanto tempo, o impressionante risco de viver. De sentir dores e também prazeres. De ter sucessos e frustrações. De não ter o mínimo controle sobre o instante seguinte.

Bem, de minha parte pretendo me cuidar para que essa "pré-ocupação" não se torne mais importante que o presente. Aliás, além de ser o único tempo "real", presente também significa dádiva. Isso tem que significar alguma coisa (por favor, não me venham com etimologias). Vou meditar sobre um conceito budista, recentemente incorporado à Psicologia, conhecido por mindfulness, algo como "consciência plena".

Viver plenamente o agora, amando como se não houvesse amanhã. Por que na verdade não há.


Texto dedicado ao amigo Adelmo Louzada.






quarta-feira, 14 de agosto de 2013

OPINIÃO DO BLOG - OS CIEPs e as UPPs

Quando Leonel Brizola e Darcy Ribeiro implantaram o Programa Especial de Educação, cujo maior símbolo eram os Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, logo apelidados de "Brizolões", houve reações de todo tipo. Desde os que defendiam incondicionalmente o projeto àqueles que o execravam. Uns viam nele a redenção das populações mais humildes, enquanto outros o consideravam apenas uma peça de propaganda para levar o então governador à Presidência da República. Isso foi há 30 anos e o blogueiro acompanhou bem todo o processo. Como sempre, as opiniões extremas eram, no mínimo, equivocadas. Os CIEPs não eram perfeitos: nem todos funcionavam tão bem; o projeto de Oscar Niemayer era prático na construção, dava acessibilidade quando isso ainda era raro, mas não tinha conforto térmico e uma sala barulhenta era ouvida no andar inteiro; a capacitação dos professores não correu como deveria, etc. Era, porém, uma mentira deslavada a afirmação de que só eram instalados em locais bem visíveis, pois conheci vários em áreas bem "escondidas". O conceito era maravilhoso: tempo integral, estudo assistido, assistência médico-odontológica, biblioteca, participação da comunidade, etc. O programa foi, porém, boicotado por todos os lados - professores que não queriam trabalhar, elites que não admitiam escolas de qualidade para os "neguinhos" e, é claro, os adversários políticos. Os petistas chegavam a dizer que "escola não é creche"! Que cidade, estado ou país teríamos se o PEE tivesse sido mantido, aperfeiçoado, desenvolvido, como uma política de Estado? Nunca saberemos, porque foi sim sabotado, destruído, desfigurado, mas tenho certeza que seria melhor do que isso que está aí.
E as UPPs? Ora, vemos todos os dias que a realidade das comunidades "pacificadas" (uma falácia, pois nem no asfalto a cidade é "pacífica") ainda é muito dura. A brutalidade prossegue, como nessa chacina recente na Maré. Os serviços públicos ainda são extremamente precários, quando existem. Falar em "infraestrutura" é uma piada de mau gosto. E, para completar o quadro, temos um governo estadual absoluta e merecidamente desmoralizado. Então é pra acabar com as UPPs? Claro que não, a reocupação dos territórios ocupados pelo tráfico tem que ser, como a Educação, uma política de Estado, independentemente de quem esteja no Palácio Guanabara. Há muito a ser corrigido, sim, mas andar para trás não é correção, é capitulação. Acabemos com a "Cidade Partida". Sejamos indignados com toda injustiça, sem olhar a classe social da vítima. Estamos todos no mesmo Rio.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

QUEREM DESBRASILIANIZAR O BRASIL!

Divido com meus 23 leitores a conclusão a que cheguei tendo em vista eventos recentes envolvendo o nosso país e o mundo.

Querem desbrasilianizar o Brasil! 

Muita gente acha que ela deveria ter permanecido assim.

Observemos: o mundo precisa muito do Brasil. Não, nada daquela história de nossas riquezas, nossas matas, etc. Falo da Civilização Brasileira, esse moedor que engole e digere pessoas, culturas, línguas, religiões e tudo o mais e regurgita uma geleia geral onde tudo parece louca e maravilhosamente transgredido. Mazelas? Of course, my horse, nós as temos de montão, pois nem todas as porcarias humanas saem pelo annus brasiliensis. E mesmo assim somos vistos em todo o mundo como esse povo fraterno, pacífico, agregador, não à toa o mediador favorito em diversos contenciosos internacionais. Qual a solução para a Palestina, Coreia, Tibete, Chipre, Sri Lanka, Timor, etc.? Brasil, é claro! Brasileirizar é a solução, ao menos para a Paz Mundial (claro, para resolver a corrupção precisaríamos, bem, importar modelos), mas o que é mais importante, muchacho?

Sigamos com minha filosofia de botequim: é claro que os "senhores da guerra" querem tudo menos uma "solução brasileira" para a Humanidade. Aí, tal como fizeram no período pré-64, financiam seus agentes cá infiltrados para minar os pilares ainda imaturos dessa nossa protocivilização. Nas comunidades pobres o controle se fez pela repressão, seja do tráfico, da milícia ou do Estado, deixando como "alternativas" de socialização o baile funk ou a igreja evangélica, ambos reprodutores de modelos importados dos EUA.

Na política, como se já não bastasse a nossa história de corrupção, coronelismo e outros "ismos", agora nos vemos de mãos atadas votando no que achamos o menos ruim e cada vez mais percebendo menos a diferença. Cada vez mais parecidos com o bipartidarismo hegemônico nos EUA e Europa - para piorar com um PMDB que, seja qual for o resultado, é sempre quem pauta o governo.

Nas empresas viceja a filosofia que denominei "sushi de hambúrguer": o modismo do "Modelo Toyota", só que com rodízio de pessoal à americana e uma pitada de ranço escravagista. Os caras confundem cultura organizacional com cultura local, tentando mudar o que não é para ser mudado, sem entender que a própria Toyota deu com os burros n'água na Fórmula 1, porque quem entende daquilo é inglês.

Na Educação, além do aparelhamento dos departamentos, transformados em verdadeiros feudos, entra o racialismo fantasiado de ação afirmativa para restaurar uma dívida social. É claro que temos racismo no Brasil, é só ver como age a Polícia. Mas é justamente esta instituição que joga por terra o principal argumento dos defensores de cotas raciais: se inclusão resolvesse, a PM não seria a mais racista das instituições brasileiras. Cotas sociais sim! Cotas raciais é mais uma ideia importada dos EUA, onde eles adoram classificar as pessoas pela etnia, como bem sabem os negros, latinos, judeus, etc.

Finalmente, toco num item já pincelado acima: querem implantar no Brasil o ódio religioso. Mercadores da Fé enriquecem despudoradamente, controlando meios de comunicação e ocupando os parlamentos na sanha de implantar um Estado fundamentalista. Como nunca serão maioria, semeiam o máximo de discórdia, atacando outras expressões de fé, tentando implantar suas ideias no máximo de instituições. Mais uma ideia alienígena que havemos de digerir.

Até há pouco fomos capazes de fagocitar todas as influências externas, alimentando e enriquecendo nossa geleia geral - e descartando muita porcaria. Talvez nunca tenhamos enfrentado tanta coisa ao mesmo tempo. Globalization, brother! Mas que isso aí é orquestrado, ah, isso é.


quarta-feira, 13 de março de 2013

JORGE MARIO

 Sempre pensei que, se pudesse bater um papo com Barack Obama, perguntaria o que ele pensou no primeiro momento em que se viu sozinho no gabinete presidencial. Imaginei o cara sentando na cadeira, dando aquela giradinha e pensando: "Cara___!"

Hoje, observando o semblante de Jorge Mario Bergoglio, o hermano agora intitulado Papa Francisco, ao aparecer na sacada para ser apresentado ao mundo - muito mais do que somente ao povo na Piazza San Pietro - percebi a perplexidade do homem alçado ao posto que, no seu pensamento e no de muita gente, é o mais elevado a ser alcançado por um humano. Humano, demasiado humano. Naquele momento, enquanto acenava com timidez para a população, quase esquecendo de fazer um gesto de bênção, ele me pareceu ter percebido o tamanho de sua insignificância.

Perplexo.
Suas palavras iniciais, e a escolha inédita do nome do Poverello, parecem indicar um pontificado exercido com humildade. O que será não sei, embora com certeza se trate de um conservador. Mas o que este ex-católico, desde a adolescência, quer registrar é a imensa solidão que pareceu viver aquele senhor de 76 anos - a idade do meu pai - no instante de sua primeira aparição pública como Papa. A percepção de alguém que compreende ter uma responsabilidade incompreensível.

P.S.: vai ser difícil aturar os argentinos. Já têm o Messi, e agora...